26 de janeiro de 2013

E a visão que meus olhos captaram era a de uma figura esguia, femininina, similar em todos os detalhes às mulheres terráqueas de minha vida anterior. [Página 73]

Eu poderia começar esta resenha de muitas maneiras, e cada uma me levaria a um leque de possíbilidades, de caminhos, e cada uma me conduziria a mundos distantes e fantásticos para expressar cada emoção e sensação que tive ao ler Uma Princesa de Marte, de Edgar Rice Burroughs. Mas, optei seguir um caminho diferente, que não vi em nenhuma resenha sobre esta obra clássica que me foi dada de presente um pouco depois de meu aniversário no ano passado.

John Carter era apenas um capitão da guerra civil buscando uma riqueza depois de anos combatendo índios, mas o destino (e uma força muito além do que se possa denominar, ao menos neste primeiro volume) o quis em Marte, o planeta cujo fascínio sempre esteve na alma e no coração desse humano orgulhoso e de pouca modéstia.

Criados em 1912 e publicados em 1917 em forma de romance, os relatos narrados pelo protagonista são relatos de bravura, selvageria, beleza exótica e amor, pois, eis que entre os perversos e grandes homens verdes marcianos uma bela princesa dos homens vermelhos surge em sua vida, dando a ele um sentido, uma causa, uma paixão que supera a crueldade e a luta constante por sobrevivência.

Se hoje, entre as obras que se ambientam em Marte, o interesse decai, não se pode dizer o mesmo sobre Uma Princesa de Marte; ignoremos que a inspiração sejam as teorias de canais com água no planeta rubro e alaranjado, canais estes que se mostram presentes ora ou outra, assim como a máquina que sustenta a atmosfera ou a complexa rede hidrográfica subterrânea, que não perde o líquido tão valioso.

Burroughs se mostra sem pressa inicialmente, permitindo ao leitor se maravilhar aos olhos de John Carter com aquele novo mundo tão velho e decadente, mas não desinteressante. E assim vamos sendo apresentados aos tharks, os homens verdes de quatro braços, que cavalgam os thoats e têm nos calots os cães leais, apesar de serem criaturas horrorosas e extremamente rápidas (e é Woola a quem o estrangeiro mais se apega, e ambos possuem uma bela amizade marcada por resgates heroicos).

Tars Tarkas, Sola e tantos outros personagens representam o comunismo, com seus acertos e falhas, todos presos na tradição; embora cativo, não tarda para que Carter se torne respeitado por seus feitos, que incluem uma força descomunal e os incríveis saltos que pode dar graças a baixa gravidade do planeta. (E nem me deterei em dizer que o Superman, em seus primórdios, deve muito a ele.)

Mas, Dejah Thoris é o raio de humanidade em meio a tudo aquilo, e o amor brota tão confuso que as tradições são abaladas. Uma princesa de Helium, a cidade dos homens vermelhos que rivaliza há anos com Zodanga, salva por John. E aqui a obra adquire um novo rumo, pois as ações do protagonista serão quase todas voltadas para a promessa de protegê-la.

Aventuras e desventuras se seguem, e mais de Barsoom (como se chama aquele mundo para os habitantes dele) é desvendado, aumentando o prazer de ler um genuíno livro de fantasia científica. Máquina que produz atmosfera, novos amigos, warhoons, naves aéreas, mistérios e um desfecho meio apressado, mas que deixa o gostinho pelo livro seguinte, Os Deuses de Marte.

Palavras vazias ditas por um fã, é fato, contudo não posso ser frio e insensível diante de algo tão belo e nostálgico, vindo dos anos marcados pelo pulp fiction, pelas ideias sem pudor, sem medo, cujos enredos beiravam o absurdo. Talvez seja por essa aura mágica e perdida, às vezes inocente e muito humana de contar algo, tudo isso que me encantou.

Eu assisti Avatar, que foi inspirado fortemente em Uma Princesa de Marte e outras histórias, e havia o interesse em ler o livro; e agradeci muito a Disney por ter adaptado o romance, permitindo assim que a obra viesse ao Brasil após quase 100 anos de publicação. (Comentarei sobre o filme depois.)

Para quem quer se deliciar com uma história divertida e cativante, livre de modismo e sem compromisso com a realidade, mas ainda assim capaz de cativar, eis a dica. É simplesmente perfeito, mesmo com uns defeitos nos capítulos finais, que aceleram o ritmo e abreviam cenas que poderiam ser mais detalhadas devido a importância.

Acompanhe John Carter, um confederado norte-americano, em solo barsoomiano. Apaixone-se por Dejah Thoris. Testemunhe o poder da amizade e do amor derrubando tradições e construindo um novo rumo para um planeta guerreiro e selvagem.

De 0 a 10, merece 9,9 sem pestanejar, pois vale muito a pena!

Título: Uma Princesa de Marte
Autor: Edgar Rice Burroughs
Gênero: Fantasia Científica, Aventura
Editora: Aleph
Nº de páginas: 272
Nota: 9,9
Comentários gerais: Bem escrito, as cenas se desenrolam muito bem; as descrições são precisas e bem construídas. As criaturas são fascinantes, assim como a maioria dos personagens. O autor mescla bem as passagens de aventura e romantismo.

Se não fosse o desfecho rápido demais, mereceria nota máxima.

2 comentários:

  1. Eu já assisti o filme e tenho curiosidade de ler o livro, e agora com esta resenha fiquei ainda mais curiosa.

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    1. ^_^
      Vi 3 vezes o filme. Não é perfeito, mas é muito bom ainda assim.

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